quinta-feira, 18 de junho de 2020

Heráclito e Parmênides

Na Escola Estadual Profa. Maria Ivone Martins Rosa, onde lecionei “Filosofia”, e no curso de Bioquímica, na Escola Técnica Estadual Conselheiro Antonio Prado (Etecap), onde administrei aulas de “Ética e Cidadania”, sempre era motivo de algazarras quando se mencionava os pensadores Parmênides e Heráclito. De fato, são nomes tipicamente gregos, que provocariam chacotas e rostos sisudos nos oficiais de Cartório de Registro Civil se algum pai ou mãe, em estado psíquico alterado, quisesse homenagear sua prole com um dos esdrúxulos nomes. Chacotas à parte, o certo é que não teríamos a Filosofia sem esses dois senhores; eles são como o trigo, o ovo, a água e o fermento nas mãos do padeiro.
Heráclito (576-480) é de Éfeso, colônia Jônia do século VI antes de Cristo; Parmênides (540-450), de Eleia, região próxima ao Mar Tirreno. Os historiadores da Filosofia têm o hábito de dividir o pensamento filosófico em diversas correntes, sendo assim, tanto o expoente da Escola Jônica (ou Iônica) quanto o da Escola Eleática são classificados como pré-socráticos, pois são anteriores ao pai da Filosofia, Sócrates (469-399). Não é à toa que todos os demais filósofos foram influenciados por esses dois grandes pensadores!
Para Heráclito, tudo flui. O símbolo do seu pensamento é o fogo, que designa, entre outras coisas, a variação, a alteração, a mutabilidade das coisas. “Não se toma banho duas vezes no mesmo rio”, pois, seja a pessoa ao banhar-se não ser mais a mesma, seja pela natureza dos rios, diferente dos lagos, pela movimentação contínua das águas. 
O ícone heraclitiano é a ideia da transformação, bem explicitado no slogan grego que dá origem ao seu pensamento: “Panta rei” (Πανtα  ρηi). A genética, através do conceito de mutação, a física, mediante o conceito de movimento, são apenas algumas das áreas antevistas pelo filósofo de Éfeso, um dos sete sábios da humanidade.
A pesquisa do sábio eleático funda-se no seguinte princípio: “O real é e não se pode dizer que não é, porque não se pode conhecer nem exprimir o que não é. Isto é, ou não é; o ser é ou não é”. Ademais, para ele só há dois tipos de filosofia, a que contempla a verdade e a que venera a opinião.
Afirmações que todos os dias nós ouvimos e dizemos como “as aparências enganam”, “nem tudo o que parece é”, derivam do sábio de Eleia. Para ele, é indissociável a combinação pensar e ser, pois ao pensar nós somos, existimos, afirmação que influenciou diretamente o francês Renê Descartes (1596-1650), que disse: “Penso, logo existo”.
Antagônico ao pensamento heraclitiano, Parmênides, é o grande pai da Metafísica. Para ele, nada se altera, pois o ser é hoje e sempre será o mesmo; a identidade, a essência do ser, é permanentemente sempre a mesma.
Se a Biologia e a Física amparam os dizeres de Heráclito, a Teologia e a Metafísica sustentam as proposições de Parmênides. Por conseguinte, se um defende a transformação, o outro argumenta a favor da essência, da permanência, da imutabilidade dos seres.
Todas as vezes que discutimos as concepções desses dois pensadores, a primeira coisa que os estudantes perguntam é sobre quem tem a razão. Epistemologicamente ambos estão corretos, pois lançaram preposições para discutirmos, avaliarmos e repensarmos as nossas concepções; todavia, o grande sábio é aquele que reconhece a própria ignorância e que se dispõe a ouvir, a entender e a sopesar aquilo que está sendo sugerido; postura diferente do ignorante, que ante a novidade, apresenta-se indisposto a remoção dos próprios preconceitos, pré-juízos e falsas opiniões. 


BENEDITO LUCIANO ANTUNES DE FRANÇA (PROF. BENÊ FRANÇA)

46 anos
Licenciado e Mestre em Filosofia. Professor Titular de Filosofia da EE João Franceschini, em Sumaré/SP. Professor Titular de Filosofia (Ética, Metodologia, Direito aplicado à TI) da Faculdade de Tecnologia de Americana, em Americana/SP. Escritor e comunicador.

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Obs.: Texto escrito originalmente em 11 de maio de 2005 para a Coluna "Um penetra na ágora", criada por mim em 2005, vinculada ao Jornal "Tribuna Liberal", de Sumaré/SP, onde eu escrevia, às Quartas-feiras, gratuitamente.

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