sábado, 30 de maio de 2020

Sócrates: Nada sei!


“Só sei que nada sei” é o lema filosófico atribuído ao grande pensador ateniense Sócrates, o pai da Filosofia. Segundo a historiografia, há dúvidas sobre a real existência dele. Alguns dizem que ele teria sido apenas um mero personagem dos diálogos de Platão; para outros, as obras de Xenofontes, Aristófanes e as do criador da “Academia” corroboram a sua existência histórica.
Os biógrafos de Sócrates afirmam que, certo dia, Querefonte teria ido à Delfos, onde havia um templo dedicado ao deus Apolo, e ao consultar o oráculo – o mediador entre o visitante e a Pítia, sacerdotisa do templo -, acerca do homem mais sábio do mundo, ela teria dito que seria Sócrates. Ao tomar ciência que excedia a todos os demais homens em sabedoria, Sócrates, humildemente, rejeitou a proposição e, com mais de 65 anos de idade, começou a interpelar todos aqueles que julgava verdadeiramente sábios, a fim de refutar a profecia da Pítia. Este era o seu projeto pedagógico-filosófico. Quanto mais Sócrates questionava um, sopesava outro, indagava ao artesão, ao juiz ou interrogava ao político de Atenas, mais ele se convencia do falso conhecimento que esses tinham, e ele, diferente desses, uma só coisa de todas as possíveis ele tinha certeza: que nada sabia.
Ora, este saber negativo visava atingir o verdadeiro saber, o conhecimento pleno das essências das coisas, da ética, da política, do comportamento humano, da felicidade. Sócrates desconhecia esses saberes teóricos e práticos e ao indagar para quem ele julgava tê-los, como bom estudante, ele queria assimilá-los, aprendê-los. Infelizmente, os seus métodos de investigação e de pesquisa o fizeram ganhar inúmeros adversários, ardorosos inimigos, tanto quanto sequazes. A ironia e a maiêutica eram instrumentos pedagógicos para resgatar, mediante perguntas, respostas, e através destas, novas perguntas, visando obter a verdadeira essência do conceito e a base consolidada do saber.
Julgado na Ágora como “corruptor da juventude” e de “não crer nos deuses da cidade”, foi obrigado a tomar cicuta, e morre em 399 a.C. Sócrates é o grande mártir do pensamento ocidental, porquanto de uma só coisa ele conhecia: que nada sabia e, como bom estudante, que estava predisposto a aprender.

BENEDITO LUCIANO ANTUNES DE FRANÇA (PROF. BENÊ FRANÇA)
46 anos
Licenciado e Mestre em Filosofia. Professor Titular de Filosofia da EE João Franceschini, em Sumaré/SP. Professor Titular de Filosofia (Ética, Metodologia, Direito aplicado à TI) da Faculdade de Tecnologia de Americana, em Americana/SP. Escritor e comunicador.

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segunda-feira, 25 de maio de 2020

Tomás de Aquino: Deus existe!

A existência de Deus é uma verdade da razão e da fé, para o italiano Tomás de Aquino (1227-1274), o “doutor Angélico” da Igreja Católica, grande expoente da Escolástica, corrente filosófico-doutrinária proeminente dos séculos XII-XIV, fundamentada, sobretudo, em Aristóteles e nas exegeses bíblicas. São Tomás de Aquino exclui que a existência divina seja apreendida por “intuição direta”, porquanto, nesse caso, não haveria a necessidade de prová-la; também não admite que se possa concebê-la “a priori”, partindo da “ideia de Deus”, como argumentava alguns pensadores cristãos pela “prova ontológica”, pois, segundo Tomás, da ordem da ideia não se pode passar à ordem da realidade. Deus, para ele, demonstra-se “a posteriori”: parte-se, antes, daquilo que nós conhecemos e sabemos, além das coisas sensíveis, assimiladas pelos sentidos humanos. Daí a necessidade de buscar provas racionais para a existência de Deus; Tomás de Aquino nos propõe cinco:
1ª) Tudo o que se move é movido por outrem. Ora, se todo movimento supõe uma causa, deve existir um primeiro motor, imóvel, causa de todo movimento não provocada por nenhuma outra força motriz;

2ª) Todo efeito tem uma causa; assim, deve existir uma causa primeira, razão de todos os efeitos, não causada nem provocada por nada;

3ª) Toda coisa é contingente, incerta, e não tem razão de ser em si própria; portanto, deve haver algo não contingente, um Ser necessário, fundamento de tudo;

4ª) Toda coisa tem certo grau de perfeição; deve existir, portanto, um parâmetro do que é perfeito, um Ser absolutamente perfeitíssimo;

5ª) Toda coisa é dirigida a um fim; deve haver, assim, uma inteligência ordenadora do universo que a dispõe nesta perspectiva.

Verifica-se que São Tomás parte de um fato, por exemplo, as coisas têm movimento, as coisas são contingentes, etc., e aplica a este um princípio, por exemplo, o que se move é movimento por outrem, todo efeito remete a uma causa, etc., visando concluir que Deus existe. Assim à pergunta “se Deus existe”, a razão, em harmonia com a fé, responde que “sim!”.

BENEDITO LUCIANO ANTUNES DE FRANÇA (PROF. BENÊ FRANÇA)
46 anos
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São Tomás de Aquino: fé (fide) x razão (ratio)

Pela História da Filosofia, o filósofo e teólogo Tomás de Aquino – mais conhecido pela Igreja como “Doutor angélico”-, é contextualizado como um pensador vinculado a Escolástica que surge entre os séculos XII e XIV de nossa era; esta é concebida como “pensamento da escola ortodoxa e doutrinária medieval”, visto que é a base da Teologia cristã. Ela propõe, assim como a Patrística, uma síntese entre os princípios gerais da filosofia clássica e a religião cristã; contudo, enquanto Santo Agostinho fundamentará suas afirmações em Platão e no platonismo, São Tomás alicerçará em Aristóteles e no aristotelismo.
Tomás de Aquino nasce na Itália, em 1227, e falece em 1274, enquanto se dirigia para o Concílio de Lyon; além de ser oriundo de uma família nobre e de ter estudado em Nápoles, Paris e Colônia, tem uma formação filosófica e teológica extremamente consolidada. De todos os pensadores da Filosofia clássica quem mais lhe chama a atenção é Aristóteles. Por conseguinte, suas obras são influenciadas pelo Estagirita, desde as concepções aristotélicas da matéria e da forma (hilemorfismo), bem como as definições de potência e ato e os princípios das quatro causas (material, formal, eficiente e final). Tudo aquilo que compatibiliza o pensamento aristotélico ao bíblico-cristão Tomás considera; aquilo que imprime contradição, ele refuta e, com base na doutrina cristã, dá uma nova interpretação. Não é a toa que muitos historiadores da Filosofia dizem que Tomás de Aquino, sob o intuito de racionalizar as verdades da fé, “cristianiza” o macedônico Aristóteles.
Ora, se a Patrística conciliava, de forma pacífica e harmônica, a fé e a razão, estabelecendo a crença como fundamento para a real compreensão e entendimento das coisas, e vice-versa, a Escolástica, sobretudo com Tomás de Aquino, rejeitará esse pretensioso vínculo; Tomás considera a Filosofia “ancilla theologiae”, ou seja, como escrava e subordinada à Teologia, pois aquilo que a Filosofia pode apreender ou captar deve ser submetido, constantemente, à lógica e às verdades da Teologia; assim, a fé é um fundamento exclusivo para o ato de conhecer. Inserido num contexto marcado pela rivalidade e de dúvidas acerca da verdade, o pensamento tomista vem recuperar a tranquilidade do homem medieval e a crença deste num discurso perene, ortodoxo e sem contradições.

BENEDITO LUCIANO ANTUNES DE FRANÇA (PROF. BENÊ FRANÇA)
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terça-feira, 12 de maio de 2020

Que é isto, a palavra Filosofia?



       Filosofia é uma palavra de origem grega, inventada por Pitágoras, que nasceu na ilha de Samos, reconhecido pela a História como o pai de um dos mais importantes teorema, o qual leva o seu nome, o Teorema de Pitágoras. Segundo o seu enunciado, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao valor do quadrado da hipotenusa; contudo, há hoje certa discordância entre alguns matemáticos e historiadores da Matemática sobre a real autoria deste Teorema. 
       Não obstante, sendo uma palavra radicada na Língua Grega, falada quase que exclusivamente pelos nascidos na Grécia, várias outras nações adotaram a expressão Filosofia, mantendo basicamente o som da língua original. Ora, é de comum acordo que todos os alfabetos possuem dois elementos: som e grafia. Sendo assim, a variação de um idioma para outro no que diz respeito à escrita da palavra Filosofia é bem pequena. Por exemplo, na Língua Inglesa, Filosofia é escrito como Philosophy; em Italiano, a palavra é escrita da mesma forma que se escreve em Português: Filosofia; em Espanhol, acrescenta-se tão somente o acento no segundo i, ou seja, Filosofía.
       Em Latim - idioma muito antigo do qual derivou inúmeros idiomas, entre eles o português, o francês, o alemão, o espanhol e o italiano-, escreve-se Philosophia. Sendo assim, todas estas variações gráficas derivam do grego: φιλοσοφία (escrita minúscula) ou ΦΙΛΟΣΟΦΊΑ (forma maiúscula). Ainda que a escrita grega seja bem distinta dos símbolos gráficos das línguas derivadas do Latim, uma coisa é certa: o som da palavra “Filosofia” fundamenta-se exclusivamente na entonação grega, ou seja, nós pronunciamos esta palavra da mesma forma como os gregos a falam.
       Como se observa, seis letras diferentes, em grego, formam a palavra Filosofia: Φ (fi) - ι (iota) - λ (lambda) - ο (ómicrón) - σ (sigma) - α (alfa).  As letras fi, assim como iota e ómicrón, aparecem duas vezes. Ora, muito mais do que isto, assim como outras palavras, a expressão Filosofia é portadora de um significado, de um sinônimo. Sendo assim, ela se divide, segundo a etimologia, em duas palavras distintas: Φιλός (FILO) + σοφία (SOFIA).
       Φιλός vem de φιλία, que dá origem a palavra em Latim, amicitia, ambas significam, em Português, amizade ou amor. Tanto φιλός  quanto φιλία  são expressões que derivam de φιλεω: um tipo de amor exclusivamente afetivo e, sobretudo, racional. Por sua vez, o radical φιλεω também pode ser traduzido como uma habilidade que, por vocação ou por causa da voz interior – ou seja, da consciência -, busca superar obstáculos e desafios que a vida nos apresenta.
       Quanto à σοφία, em Latim, significa sapientia, a qual pode ser traduzida para o Português como sabedoria, expressão que possui o seguinte significado, segundo o Minidicionário Aurélio: “s.f. 1. Grande conhecimento; saber, ciência. 2. Qualidade de sábio. 3. Prudência, sensatez” (FERREIRA, 1989, p. 454). Por outro lado, alguns acreditam que a palavra saber deriva de sabor, no sentido de valorizar a preferência pessoal e o valor subjetivo do conhecimento.
       Com efeito, ao inventar a palavra Filosofia, o matemático Pitágoras quer nos ensinar que ela expressa, principalmente, um grande amor pela sabedoria, e o filósofo, como portador dela, é um amante do saber e um devoto da verdade.
 
BENEDITO LUCIANO ANTUNES DE FRANÇA (PROF. BENÊ FRANÇA) – 46 anos
Licenciado e Mestre em Filosofia. Professor Titular de Filosofia da EE João Franceschini, em Sumaré/SP. Professor Titular de Filosofia (Ética, Metodologia, Direito aplicado à TI) da Faculdade de Tecnologia de Americana, em Americana/SP. Escritor e comunicador.

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Obs.: Agradeço ao competente profissional da Fatec de Americana, sr. William Toshio Nakagawa, tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, e perito da área de computadores, por me ajudar a inserir os termos gregos neste Blog, com a predisposição similar a dos anjos divinos, que nos livram das ciladas e nos guardam de todos os males, inclusive os derivados da inaptidão tecnológica. Muito obrigado, Senhor Nakagawa.  


Vídeos sobre as Normas da ABNT disponíveis no Canal do Prof. Benê França (2maio25)

 Esta é uma lista de vídeos sobre algumas das Normas da ABNT: 6023 (Referências), 10520 (Trabalhos acadêmicos) e 14724 (Trabalhos acadêmicos...